segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Sarah Vaughan - Crazy and Mixed Up

Por 14 anos o Guia de Jazz esteve no ar com a missão de aproximar os internautas ao jazz. Um dos tópicos mais visitados era o de dicas de CDs, no qual dezenas de discos eram indicados e resenhados por mim. Infelizmente, com o fim do site em setembro de 2015, todo esse acervo foi "perdido".

Mas não totalmente perdido. Além do livro Jazz ao Seu Alcance - que traz todo o conteúdo do guia (dicas de CDs, DVDs, livros, entrevistas e muito mais) - você encontrará quinzenalmente neste blog algumas dicas de CDs publicadas anteriormente no site Guia de Jazz.

Sempre que possível, ao final de cada resenha você encontrará vídeos do Youtube com algumas faixas do disco indicado para escutar. Boa leitura e audição. Veja outras dicas de CDs aqui

Sarah Vaughan - Crazy and Mixed Up (1982)

Mais de duas décadas já se passaram desde a morte da divina Sarah Vaughan, em 1990. Ao lado de Billie Holiday e Ella Fitzgerald, Sassy completava a trinca das grandes cantoras de jazz. Em tempos de Diana Krall e Jane Monheit, ouvir qualquer disco de Sarah é fundamental para entender de onde vem a inspiração para as novas cantoras e perceber que a nova geração ainda tem um longo caminho pela frente.

O início de carreira de Sarah Vaughan é muito parecido com a de Ella Fitzgerald. Em 1934, Ella venceu o concurso de amadores do Apollo Teatre, no Harlem (EUA) e foi contratada pela orquestra de Chick Webb. Oito anos mais tarde, foi a vez de Sarah vencer o mesmo concurso e ser convidada para tocar com Earl Hines. Outros marcos em sua carreira são os trabalhos ao lado de Dizzy Gillespie e Charlie Parker e sua parceria com o trompetista Clifford Brown.

Escolher um único álbum dentro de uma obra tão extensa e rica como a de Sarah Vaughan é uma tarefa difícil, mas como acontece na discografia de todos os jazzistas, sempre há dois ou três títulos fundamentais.

No início dos anos 80, após anos gravando com orquestras, Sassy lançou o disco Crazy and Mixed Up, pela gravadora Pablo. Neste trabalho, acompanhada por um quarteto, a cantora foi responsável pela produção e teve total liberdade para escalar os músicos e escolher o repertório. O resultado foi um dos discos mais vibrantes e inspirados de toda sua carreira.


Sassy convidou nada menos que o guitarrista Joe Pass, que nos anos 70 fez discos antológicos com Fitzgerald, o veterano pianista Roland Hanna, o baixista Andy Simpkins e o baterista Harold Jones. O CD abre com o clássico “I Didn’t Know What Time It Was”, de Rodgers & Hart. Em seguida vem “That’s All”, com destaque para o solo de Hanna, que também comanda a singela “Seasons”. Em “In Love In Vain”, o trio formado por piano, baixo e bateria promove o clima ideal para Sassy mostrar sua técnica vocal única. O show continua com o casamento perfeito entre a guitarra de Pass e o scatt de Sassy em “Autumn Leaves”.

Assim como outros jazzistas, Sarah também se rendeu à música de Ivan Lins e regravou o tema ”Começar de Novo”, que em inglês ganhou o nome de “The Island”. O disco termina com outra composição inesquecível de Rodgers & Hart, “You Are Too Beautiful”, apenas com a cantora acompanhada pelo piano.

Este texto foi originalmente escrito dias depois da morte da cantora Anita O’ Day, no fim de 2006. A perda de Anita cria um vazio igual ao deixado por cantoras como Sarah, Ella, Billie, Carmen McRae e Betty Carter. É claro que ninguém é imortal e muito menos insubstituível, mas não podemos deixar de lembrar que essas cantoras foram a personificação da palavra diva.



terça-feira, 28 de novembro de 2017

Grammy 2018 - Os indicados

Como acontece sempre, no fim de ano, os indicados ao Grammy são divulgados. A edição de número 60 acontecerá no Madison Square Garden, em Nova York, no dia 28 de janeiro.

Os grandes destaques são o pianista Fred Hersch (foto abaixo), com o disco Open Book e o saxofonista Chris Potter (foto ao lado), com o disco The Dreamer Is The Dream.

Ambos concorrem em duas categorias, melhor tema de jazz e melhor disco de jazz.

O Brasil também está na disputa. Na categoria melhor disco de jazz latino, o veterano pianista Antonio Adolfo concorre com o disco Hybrido – From Rio To Wayne Shorter.

Na mesma categoria, a saxofonista Anat Cohen e o violonista brasileiro Marcello Gonçalves disputam o prêmio pelo disco Outra Coisa – The Music Of Moacir Santos. Na categoria melhor disco de world music, Anat também concorre ao lado do Trio Brasileiro, com o disco Rosa Dos Ventos. Abaixo você encontrará dois vídeos de Anat Cohen, um com Golçalves e o outro com o Trio Brasileiro.


OS INDICADOS:

Best Improvised Jazz Solo

“Can’t Remember Why” — Sara Caswell, soloist
“Dance Of Shiva” — Billy Childs, soloist
“Whisper Not” — Fred Hersch, soloist
“Miles Beyond” — John McLaughlin, soloist
“Ilimba” — Chris Potter, soloist

Best Jazz Vocal Album

The Journey — The Baylor Project
A Social Call — Jazzmeia Horn
Bad Ass And Blind — Raul Midón
Porter Plays Porter — Randy Porter Trio With Nancy King
Dreams And Daggers — Cécile McLorin Salvant

Best Jazz Instrumental Album

Uptown, Downtown — Bill Charlap Trio
Rebirth — Billy Childs
Project Freedom –Joey DeFrancesco & The People
Open Book — Fred Hersch
The Dreamer Is The Dream — Chris Potter

Best Large Jazz Ensemble Album

MONK’estra Vol. 2 — John Beasley
Jigsaw — Alan Ferber Big Band
Bringin’ It — Christian McBride Big Band
Homecoming — Vince Mendoza & WDR Big Band Cologne
Whispers On The Wind — Chuck Owen And The Jazz Surge

Best Latin Jazz Album

Hybrido – From Rio To Wayne Shorter — Antonio Adolfo
Oddara — Jane Bunnett & Maqueque
Outra Coisa – The Music Of Moacir Santos — Anat Cohen & Marcello Gonçalves
Típico — Miguel Zenón
Jazz Tango — Pablo Ziegler Trio











domingo, 29 de outubro de 2017

Wynton Marsalis é imortalizado no Hall of Fame

O inevitável finalmente aconteceu. Na edição de dezembro deste ano (2017), o trompetista norte-americano Wynton Marsalis entrou para o Hall Of Fame da revista DownBeat.

Pelo menos essa é a opinião dos leitores da octogenário revista. Anualmente, duas votações acontecem, uma feita pelos críticos e outra pelos leitores.

Aos 56 anos, Marsalis é um dos mais jovens músicos de jazz a entrar nesse seleto grupo, que nos últimos anos recebeu nomes como Phil Woods (2016), Tony Bennett (2015), B.B. King (2014) e Pat Metheny (2013). Na votação deste ano feita pelos críticos, o saudoso trompetista Don Cherry foi o escolhido para entrar no Hall of Fame.

Apesar da precocidade de entrar para esse grupo, ninguém que acompanha o jazz duvidava que Marsalis em breve seria lembrado por leitores ou críticos da revista. Com 30 anos de carreira, o trompetista é um dos mais respeitados músicos de sua geração, intitulado de young lions, que trouxe o jazz de volta às manchetes, no início da década de 1980.

Filho do pianista Elis Marsalis, irmão do saxofonista Branford Marsalis e nascido no berço do jazz, Nova Orleans, Marsalis parecia fadado a se tornar um músico de jazz. Mas seu perfeccionismo e sua paixão pelo música o tornaram quase que um embaixador do jazz.

Sua atuação à frente do Jazz at the Lincoln Center, como diretor artístico, é reconhecida como um das mais importantes e eficazes programas educacionais para multiplicar o número de músicos e ouvinte de jazz pelos Estados Unidos. Com sede na cidade de Nova York, a casa da Jazz at Lincoln Center Orchestra (foto abaixo) se tornou visita obrigatória para todo fã de jazz que visita a cidade. Saiba mais sobre a programação aqui.


Isso sem falar nos mais de 60 discos lançados - entre CDs de jazz e clássicos -, nove Grammys, sendo que continua até hoje, 30 anos depois, a ser o único músico a receber um Grammy no mesmo ano em duas categorias diferentes, e o primeiro jazzista a ganhar o prestigiado prêmio Pulitzer.

Abaixo você escuta na íntegra os discos J Mood (1986) , que levou o Grammy de melhor disco de jazz, e Black Codes ( From The Underground) (1985), que repetiu o premiação no ano seguinte.

O legado que Wynton Marsalis deixará para o jazz já está escrito. Os críticos podem continuar a dizer que ele parou no tempo, que sua obsessão pelo jazz tradicional é um erro para que o jazz continue a se desenvolver e um atraso para as novas gerações. Wynton sempre acreditou em suas convicções e assim continuará trilhando seu caminho.